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terça-feira, 19 de novembro de 2024

A Versão Alternativa: Priscilla

PRISCILLA (EUA, 2023)

Título brasileiro:
Priscilla
Gravação:
24 de outubro - dezembro de 2022
Lançamento:
27 de outubro de 2023 (Mundial)
26 de dezembro de 2023 (Brasil)
Duração:
113min
Produtora:
The Apartment Pictures
American Zoetrope
A24
Sony Pictures
Stage 6 Films
Orçamento:
US$ 20 milhões
Arrecadação:
US$ 21 milhões (MUNDIAL, até 25 de dezembro de 2023)
Elenco principal:
Cailee Spaeny
Jacob Elordi
Dagmara Domińczyk
Raine Monroe Boland
Emily Mitchell
Jorja Cadence
Rodrigo Fernandez-Stoll
Luke Humphrey
Trilha sonora:
"Priscilla" (CD / CD duplo / Digital)
(2 de novembro de 2023)


Priscilla é o primeiro filme de cinema a tratar da vida de Priscilla Ann Beaulieu, ex-esposa do Rei do Rock Elvis Presley, antes, durante e após o casamento com o cantor. 

Baseado ligeiramente no livro "Elvis & Me", lançado por Priscilla em 1988 e transformado em filme para a televisão no mesmo ano, o filme conta sua história modificando alguns momentos para tentar gerar simpatia para com a ex-esposa de Elvis. O roteiro, assinado pela escritora Sandra Harmon e a diretora Sofia Coppola com assistência da própria Priscilla Beaulieu, transforma Elvis, nas palavras de Lisa Marie Presley - com as quais concordamos - em "um predador e manipulador" em um filme "vingativo e desdenhoso".

A produção foi anunciada logo após o sucesso financeiro de "ELVIS", a cinebiografia do cantor dirigida por Baz Luhrmann em 2022, e o projeto saiu rapidamente do papel após Priscilla divulgar na mídia que gostaria de esclarecer algumas coisas vistas no filme de Luhrmann sobre ela.

Sabendo das mudanças nas histórias contadas por Priscilla em "Elvis & Eu" e como isso afetaria negativamente a imagem de Elvis, Lisa Marie Presley e a EPE foram ligeiros em negar qualquer ajuda para a produção de Coppola, inclusive vetando o uso de imagens, voz ou músicas do cantor. Lisa Marie ainda foi mais longe e enviou e-mails para Sofia Coppola com críticas ferrenhas ao roteiro e um apelo para que ela não filmasse o projeto.

Sofia Coppola, filha do aclamado diretor Francis Ford Coppola e prima do ator Nicolas Cage (cujo verdadeiro nome é Nicolas Coppola), sempre foi conhecida por suas produções impactantes, mas parece que em "Priscilla", provavelmente a pedido da própria, a diretora exagerou no feminismo e em tentar passar tudo como machismo ou simplesmente desdém. Além disso, embora seja um filme que veio prometendo trazer a real história de Elvis Presley e Priscilla Beaulieu, algumas cenas e acontecimentos foram totalmente inventados, inseridos em contextos que não os reais ou distorcidos para favorecer uma narrativa.

Quando lançado mundialmente em 27 de outubro de 2023, o filme teve uma baixa aceitação nos cinemas, não conseguindo nem recuperar seu orçamento de US$ 20 milhões, número que só foi alcançado dois meses depois. Até 25 de dezembro de 2023, o filme arrecadou apenas US$ 21 milhões e é considerado um fracasso de bilheteria.

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Abaixo listamos alguns erros e fazemos observações sobre nossa experiência com o filme, dada a partir do ponto de vista de que não se deve modificar fatos para agradar partes ou criar polêmicas comerciais.

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"Você gosta de Elvis Presley?" O oficial casado Terry A. West entra em um restaurante de uma base aérea americana na Alemanha em 1959 e pergunta à jovem Priscilla de 14 anos se ela gostaria de conhecer o Rei do Rock. Ela, sem pestanejar, aceita contanto que possa pedir permissão aos pais antes. E é aqui, no quarto minuto de filme, que encontramos o primeiro erro.

Na verdade, Priscilla teria um namorado à época, um soldado chamado Currie Grant. Currie contou por diversas vezes que foi Priscilla que pediu que ele a apresentasse a Elvis em troca de uma recompensa bastante lasciva, até que foi processado por ela assim que ameaçou divulgar fotos íntimas dela em 1959 para provar seu relacionamento. Houve vários julgamentos sobre o caso, com Priscilla acusando Grant de calúnia e tentativa de difamação, além de afirmar que tais fotos não existiam, mas o mais curioso é que, no fim, Grant recebeu US$ 10 mil e teria sido intimado a devolver as fotos que ela dizia não existirem.

Assim que Priscilla chega à casa de Elvis em Bad Nauheim, notamos que a diretora tentou estabelecer Elvis como um predador já nas primeiras palavras trocadas com a jovem. E isso é reforçado pela música que ele toca no piano logo após, "Whole Lotta Shakin' Goin' On", um sucesso de Jerry Lee Lewis, que se casou com a própria prima de 13 anos. Na sequência também vemos Priscilla se sentir pressionada a ver Elvis novamente, como se ele a estivesse obrigando a comparecer a mais uma festa - sendo que garotas é que não faltavam para Elvis, se fosse apenas isso que ele quisesse -, e o cantor maliciosamente a convidando para ficarem a sós.

Priscilla briga com seus pais quando eles se mostram preocupados com o fato de que ela passa muito tempo com Elvis e não dorme direito. Além de ser mentira que seu pais se preocupavam tanto, uma vez que ela passava noites a fio com o cantor, a tentativa de dizer que ela não dormia mais por já estar pegando os hábitos de Elvis é doentia e mentirosa. Assim como também é a forma com que o Rei do Rock é apresentado novamente como um predador ao dizer aos pais de Priscilla que gosta dela por ela ser "nova, mas mais madura do que sua idade aparenta". Para reforçar essa imagem negativa, ainda o vemos dando presentes caros para ela como se tentasse impressioná-la ou comprá-la.

Depois que Elvis volta para os EUA, em março de 1960, o filme pula rapidamente os próximos três anos. Priscilla lê sobre o cantor e seus affairs nas revistas de fofocas e nós somos forçados a acreditar - ou fingir que acreditamos - que ela passou esse período sozinha, amargurada e esperando o reencontro com seu grande amor.

Aqui há outra discrepância: ao invés do que vemos, a garota se encontrou com Elvis nesse período. Pior ainda é o lançamento de "G.I. Blues" ter sido movido para 1962, assim como o rumor do namoro com Nancy Sinatra, e a mãe de Priscilla tentando convencê-la a esquecê-lo, quando na verdade havia muito interesse por trás do relacionamento.

Quando Elvis diz a Priscilla que irá levá-la para morar com ele em Graceland, novamente percebemos um ar de manipulação enquanto a garota expressa visualmente uma insatisfação que nunca existiu. De fato, havia uma empreitada por parte de Priscilla para que Elvis a levasse para sua mansão o quanto antes. Uma vez lá, ela se sente rejeitada sexualmente pela primeira vez pelo cantor, passando-nos a mensagem de que, além de predador e manipulador, ele talvez também só se animasse ao sexo se ela fosse mais nova.

Vemos então Priscilla acordar dois dias após tomar uma pílula oferecida por Elvis e uma sequência em Las Vegas que sugere que ele a apresentou a tudo que podia ser errado: drogas, bebidas, jogatina e farra generalizada. Há um endeusamento de sua figura pura e meiga, enquanto a direção age de forma oposta nas ações do cantor, colocando-o como um "diabo disfarçado".

Com 35 minutos desse festival de horrores, tivemos que parar essa resenha. A coragem de continuar voltou mais de um dia depois e de forma fraca.

Após alguns meses com Elvis em Graceland, Priscilla se mostra relutante em ter que voltar a morar com seus pais na Alemanha. Outro ponto que nunca ocorreu na realidade se torna a base para que o padrasto de Priscilla aceite os termos de Elvis e concorde que a garota vá morar com ele definitivamente. A história conta algo muito mais sombrio: o cantor foi ameaçado pelos pais da "inocente menina" e ele, com medo da repercussão negativa e provavelmente influenciado por Parker, cedeu. O próprio Elvis viria a dizer mais tarde que sofrera ameaças caso não a colocasse sob seu teto. 

Assim que se instala em Graceland, Priscilla passa a se sentir sozinha e a perceber que está em um lugar onde nada lhe pertence, ainda mais com Elvis sempre filmando em Hollywood. É claro que essa é outra parte fictícia da trama, uma vez que, se havia algo pelo qual Graceland era famosa, esse algo era o fato de que estava sempre lotada de pessoas. Ver Dee repreendendo a garota por estar no pátio da propriedade é algo altamente irreal e muito insultante para a memória da mesma.

Os insultos ao carisma de Elvis e a tentativa de colocá-lo como manipulador continuam quando ele leva Priscilla para comprar roupas novas. Ela quer comprar um vestido marrom sem graça e basta Elvis dizer que não gosta do modelo e que quer que ela use outras coisas, além de pintar o cabelo de preto, para Sofia Coppola impor um senso de machismo controlador à cena. Sabemos que o cantor sempre foi muito protetor das coisas e pessoas que ele tinha como suas mais adoradas, mas isso beira ao ridículo.

Voltamos então ao problema dos remédios prescritos de Elvis. E aqui a diretora simplesmente mostra Priscilla tomando antidepressivos como se fossem balinhas de goma para incutir na mente do mal informado que o claro vício dela era algo provocado por Elvis, que nunca oferecia seus medicamentos para outros. De fato, JD Sumner disse por diversas vezes que "as drogas pesadas que existiam nas turnês eram compradas pelos meninos da Máfia com assinaturas falsas de Elvis, mas Elvis nunca as usou e não sabia delas."

Depois de colecionar armas como se Elvis fosse um fora-da-lei que a obrigasse a isso, Priscilla se sente novamente pressionada a mudar seu estilo porque ele comenta que seu vestido - horrível, por sinal - não lhe cai bem. Ela também se mostra alinhada a tomar antidepressivos antes das aulas e, por estar indo mal nos estudos, compra uma colega com a promessa de leva-la a uma festa de Elvis. E em quem está a culpa, senão na pessoa que não se controla com remédios que não lhe foram oferecidos e trapaceia em uma prova?? Em Elvis é que não está.

Elvis lhe dá um carro, compra suas roupas, concorda em não ir em sua formatura para não virar os holofotes para ele, mas nada nunca está bom para Priscilla - o que, "obviamente", deve ser culpa dele, segundo Coppola. Pelo menos a diretora e as roteiristas decidiram deixar um trecho da verdade aqui, quando ela e Elvis fazem filmes e fotos íntimas caseiras (Currie Grant estaria falando a verdade, então?). Elvis então, sem motivo algum, bate em Priscilla por causa de uma brincadeira.

Como isso foi muita invenção para nossa cabeça, paramos a resenha de novo. O filme mal havia passado de uma hora e ainda tínhamos mais 50 minutos pela frente. O jeito foi dar mais um dia de folga para nosso intelecto. De fato, editando esse comentário agora, após terminarmos nossa avaliação, percebemos que fazer a crítica desse filme nos tomou o triplo do tempo que qualquer outro já havia nos tomado porque precisávamos parar de tempo em tempo por não acreditarmos no que víamos.

No nosso quarto dia de resenha, voltamos a Elvis em Graceland pedindo desculpas pelo ocorrido e implorando para que Priscilla abra a porta do banheiro e saia. Gostaríamos de saber o que ele fala, mas a voz que o ator deu ao Rei do Rock é tão enrolada e exagerada - como se estivesse com uma batata na boca - que é impossível distinguir palavras. Isso não é algo percebido apenas nesse momento, é no filme todo!

Vemos um Elvis extremamente traidor e agressivo nos próximos minutos. Priscilla questiona sobre Ann-Margret e ele e agride verbalmente; ao perguntar sobre recados trocados entre ambos, ela recebe novamente a agressividade do cantor. Ele até mesmo joga uma cadeira nela! Há aqui uma reunião de eventos que não condizem em nada com a realidade. Elvis era sim temperamental, mas nunca a este ponto na parte da história que supostamente estamos vendo - meados dos anos 1960. E mesmo que mais tarde ele viesse a ter reações mal pensadas, nunca houve relato de agressão física por parte de nenhuma das outras namoradas.

Chegamos a 1967 e Elvis e Priscilla se casam. A cena mostra amor e alegria, mas sabemos que Elvis tinha uma outra opinião sobre o que realmente ocorreu naquele primeiro de maio. Ele repetiria pelo resto de sua vida que foi ameaçado, coagido e forçado a se casar; que não tinha interesse em ser um homem casado naquele ponto de sua vida. Segundo ele,  tudo não passou de um golpe orquestrado pelo Coronel, Priscilla e seus pais. Por uma graça divina, a única coisa boa disso tudo foi o nascimento do único amor de Elvis depois de sua mãe: Lisa Marie.

Como contam várias fontes da Máfia de Memphis, logo após o nascimento de Lisa em 1 de fevereiro de 1968, Priscilla foi vista tomando banho com seu instrutor de caratê, Mike Stone. Claro, isso é distorcido aqui, colocando Elvis como o vilão que pede uma pausa no relacionamento enquanto Priscilla ainda está grávida. A relação com Stone, obviamente, não é nem mesmo comentada no filme, para não destruir a narrativa de uma mulher vítima de um homem extremamente machista.

Após vermos brevemente a gravação para o '68 Comeback Special, pulamos no tempo já para 1970 com Elvis se apresentando no seu "Summer Festival". A produção deixa claro que, nesse ponto da história, Elvis não tinha mais interesse algum em Priscilla, outra mentira que somos obrigados a engolir. Havia tensão, admitimos, mas o consenso era de tentar consertar o que fosse preciso. Mike Stone é mostrado somente aqui para esconder o relacionamento que já durava dois anos.

Chegamos a 1972 e ao fim do filme. Priscilla anuncia que está partindo e não dá motivo aparente, embora no livro ela cite "uso abusivo de drogas" e na realidade saibamos que suas traições com Mike Stone já não podiam ser escondidas.

O que sabemos também é que ela decidiu usar datas que destruiriam Elvis para anunciar tudo: em 24 de dezembro de 1971, ela diz a ele que o casamente está acabado; em 26 de janeiro de 1972, minutos antes do início do primeiro show daquele ano, ela o informa que vai partir. Tudo planejado para gerar o maior nível de estresse e sofrimento possível.

TRILHA SONORA

Para promover o filme,
a diretora Sofia Coppola contratou a banda de seu marido, a Phoenix, para compor a trilha sonora. Poucos trechos de músicas são de outros artistas e única que aparece completa é a versão original de 1973 de "I Will Always Love You", de Dolly Parton.

A trilha sonora foi lançada em 2 de novembro de 2023 em todas as plataformas digitais e em CD duplo pelos selos ABKO Records e A24 Music. Assim como o filme, o álbum fracassou nas vendas.





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