EAP Index Brasil: A Última Turnê: 17 a 28 de Agosto de 1977

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A Última Turnê: 17 a 28 de Agosto de 1977

26 de junho de 1977: Elvis recebe uma placa da RCA
em comemoração à prensagem de 2 bilhões de discos,
conquistado durante a produção de Moody Blue
No fatídico 16 de agosto de 1977, era impossível saber se Elvis estava com vontade ou apto a fazer tal turnê, algo que nunca saberemos. Seus shows de abril e maio, além dos feitos entre 21 e 26 de junho, mostravam que sim; mas suas apresentações de fevereiro, março e a maioria de junho diziam que não. Não tanto por suas performances, que eram de pura superação, mas por vermos que ele precisava urgentemente de um descanso mental e físico.

Mas, como Elvis sempre deixou claro, existiam outros fatores que o faziam continuar nas apresentações. Para ele, cancelar um show era um desrespeito com o público e, além disso, era uma forma de esquecer dos problemas. Mas o fato principal é que o "Coronel" o pressionava cada vez mais para que fizesse o máximo de shows possíveis no menor espaço de tempo. Suas jogatinas haviam saído do controle, e a necessidade de pagá-las pesava muito. Ele já perdera US$ 1,5 milhão em uma única noite de jogo anteriormente, segundo relatos de membros da Máfia.

O jeito era colocar seu "cofre" para fazer hora extra. Não era a primeira vez que Parker agia inconsequentemente. Houveram várias outras vezes em que sua ganância falou mais alto, mas em 1977 Elvis estava bem menos preparado física e mentalmente devido a seus bem conhecidos problemas. Uma rotina extenuante de shows não era recomendada nem pelo Dr. Nick nem por ninguém em sã consciência. Mas Parker pensava diferente.

Em 21 de maio de 1977 Parker provaria novamente que Elvis só era importante quando se tratava de dinheiro. Larry Geller, cabeleireiro e um dos amigos mais próximos de Elvis, relembra o ocorrido:

"Estavamos no quarto do hotel em Louisville, Kentucky. Elvis estava mal, teve febre, se sentiu enjoado, teve sintomas de gripe  e não conseguira dormir na noite anterior. Estava no quarto com o Dr. Nick, a portas fechadas. De repente, ouvimos fortes batidas na porta. Isso era estranho, porque tinhamos seguranças em todo o andar e ninguém tinha permissão para entrar. Abri a porta e era o Coronel. Eu o recebi e disse que ia ver se Elvis podia atendê-lo, mas ele me disse rispidamente que entraria no quarto de qualquer jeito.
Quando ele abriu a porta, só o que vi foi Elvis caído na cama, desorientado e balbuciando - praticamente em estado de coma. O Dr. Nick estava segurando a cabeça dele e mergulhando em um balde com água gelada para tentar reanimá-lo. E a porta se fechou. Eu pensei que aquilo seria bom, que o velho - Parker - veria o que estava acontecendo, como Elvis estava mal, e que ia fazer algo a respeito. Aquilo não podia continuar. Era desumano.
Noventa segundos depois, a porta se abre, o Coronel Parker anda até mim - eu levanto - e ficamos cara a cara. E ele me encarou friamente, e disse: 'Ouça-me agora. A única coisa que importa é que aquele homem esteja em cima do palco esta noite. Nada mais importa. Nada.'"

21 de maio de 1977: Elvis e sua entourage a caminho do show em Louisville, Kentucky


E à noite, no dia 21 de maio, lá estava Elvis no palco. Essa influência de Parker nas decisões do Rei do Rock é até hoje incompreendida. É certo que, sem o Coronel, Elvis talvez não tivesse passado de um pequeno sucesso regional em 1954 e 1955, mas mais de vinte anos depois, quando o cantor já tinha autonomia suficiente para dirigir sua carreira, era um tanto estranho que a última palavra sempre viesse do seu agente. O contrato mantido pelos dois não dava maior poder de decisão a nenhum lado; Parker ficava com 50% de toda a arrecadação de Elvis, o que era muito para um agente, mas extremamente pouco para os gastos dele com as jogatinas; mas os outros 50% eram de Elvis, o que lhe dava o mesmo nível de importância.

Por causa de suas jogatinas, era do interesse de Parker que Elvis trabalhasse o máximo possível. Entre 12 de fevereiro e 26 de junho de 1977, Elvis tinha 59 shows marcados - 4 dos quais foram cancelados devido a seus problemas de saúde. Como Parker aceitou que Elvis fizesse apenas um show por dia nas cinco temporadas de 1977 ainda é um mistério para muitos. E mesmo com apenas um show por dia, a rotina era extremamente cansativa para uma pessoa sem condições de saúde suficientemente boas.

1 de junho de 1977: Para evitar o assédio dos fãs, Elvis se dirige ao local de seu show em Macon,
Georgia, saindo pela entrada de serviço do hotel


Após as precárias apresentações do início de junho de 1977, Elvis deveria ter tirado férias dos palcos por pelo menos 3 anos - e alguns amigos próximos dizem que era o que ele desejava. Porém, Elvis também se dividia entre suas necessidades pessoais e as de seus funcionários. Quando Lamar Fike disse a ele que deveria cancelar a turnê de maio/junho de 1977, Elvis respondeu: "Lamar, eu tenho uma folha de pagamentos para honrar."


A ÚLTIMA TURNÊ

Depois de se apresentar para 18 mil pessoas em IndianapolisIndiana, no dia 26 de junho de 1977 - o qual acabou se tornando seu último show, Elvis começou um período de merecidas férias que durariam 50 dias. Após o descanso, o Rei do Rock deveria estar preparado para mais uma leva de doze shows que se iniciariam em 17 de agosto e terminariam no dia 28 do mesmo mês.

Lista das datas e cidades dos shows da turnê nº 6 de 1977. A observação no pé da
página lê:
"Esta é a única lista que temos no momento uma vez que a RCA
marca cada turnê individualmente e nós recebemos a notícia na última hora.
Não ha nada marcado para Lake Tahoe nem nada definitivo para Las Vegas."


Elvis também faria 1 show por dia nesta turnê que nunca saiu do papel. Como era de costume desde meados de 1976, Graceland só ficava sabendo dos dias e locais dos shows com uma antecedência mínima - apenas dois dias antes do primeiro. Apesar de todos os pesares, os shows estavam vendendo muito bem, muitos com lotação máxima. Porém, a falta de confirmação de apresentações em Las Vegas e Lake Tahoe - o segundo maior cenário para Elvis depois de Vegas - causava preocupação.

Nesta turnê, Elvis iria a algumas cidades nunca visitadas por ele. Portland, no Maine (Elvis somente havia se apresentado em Portland, Oregon), era a primeira, já nos dias 17 e 18 de agosto (foram contratados dois shows). Utica, NY, no dia 19, também era novidade; assim como Lexington, KY, no dia 23. Nas restantes, Elvis tinha estado em Syracuse, NY, Roanoke, VA, e Fayetteville, NC, em julho e agosto de 1976, respectivamente; Uniodale, NY, e Asheville, NC, tinham recebido seu show em julho de 1975. A cidade em que Elvis havia passado mais vezes entre as da lista, Memphis, TN, na qual ele havia se apresentado nos três anos anteriores, fecharia a turnê em 28 de agosto por questão de comodidade.

Elvis durante apresentação em Uniondale, NY, no dia 19 de julho de 1975 (jumpsuit Chicken Bone)

Ao que tudo indicava na época, essa provavelmente seria uma das últimas turnês do ano ou talvez até mesmo a última. O que se sabe é que havia uma grande preocupação de Elvis para com sua imagem e uma vontade de inovar em seu show e repertório, o que já começara a se mostrar em 1976. De acordo com pessoas próximas, como Larry Geller e o figurinista Bill Belew, o cantor ia se afastar dos palcos em 1978 e se concentrar em melhorar sua saúde, físico e mente, além de escrever um livro e um filme com "a versão real da minha vida", como dizia aos amigos.

De fato, na tarde de 16 de agosto 1977, Belew estava a caminho de Graceland com uma nova coleção de jumpsuits para que Elvis experimentasse quando soube da morte do cantor. Entre elas estava a escolhida para "os últimos shows do ano", como encomendada por Joe Esposito, de tom azul claro e com motivos mais descontraídos e ao estilo pessoal de Elvis.

A jumpsuit escolhida para a turnê de 16 a 28 de agosto de 1977


Depois desta encomenda, Belew não tinha outras responsabilidades criativas naquele momento, mas já pensava no futuro. Era de seu conhecimento que Elvis tiraria dois anos de férias e então retornaria aos palcos em uma turnê na Europa, fazendo sua primeira experiência internacional em 26 anos de carreira, em 1980. Para isso, e para acompanhar a evolução do formato das apresentações, que já em 1977 requeria mais que apenas um cantor e sua banda, o estilista investiu em lasers, que eram moda naquele momento.

Nas palavras de Bill Belew, em 2004:

"A última [jumpsuit] em que trabalhei - e até fiz um protótipo - foi a Laser Suit. Conversei com um amigo eletricista que estava por dentro da coisa dos lasers; era algo relativamente novo e shows com lasers estavam virando moda. Então desenhei o que eu pensei que se chamaria Jewel Suit, mas que no fim foi nomeada Diamond Suit. O que fizemos é que em certos pontos [da roupa] existiam diamantes extra grandes que diriam a Elvis onde poderia rasgar sua roupa - e era dali que um laser dispararia. Ele tocaria em seu corpo e o laser acionaria, era isso. Tínhamos tudo pronto e, no dia da sua morte, estávamos indo para um estúdio onde colocaríamos a roupa em um manequim e mostraríamos para ele. [...] O Laser Suit foi uma ideia para a [turnê na] Europa, sabe? Era para isso. Mas não aconteceu."

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